quarta-feira, 2 de abril de 2014

A minha crença em relação ao cancro.


Foi em 2004. Noites e dias a fio já se tinham passado e a rotina continuara a mesma. Andava no meu segundo 9º ano e engraçado que estava numa aula de Português. Recordo-me porque senti durante o dia todo um mau pressentimento. A minha avó estava seriamente doente com apenas sessenta e quatro anos de idade. E, aquelas noites e dias a fio que se passam e a rotina continuara a mesma só vinha a confirmar o que todos nós temíamos - o falecimento da minha avó vítima de cancro na bexiga.

Todos os dias depois das aulas ia jantar a casa e de seguida, ia de carro para o hospital passar horas a fio ao lado da figura materna mais poderosa da minha família. Eu saberia que se a minha avó falecesse que tudo iria mudar. Eu mesma iria mudar porque a minha vida iria dar uma volta de 360º. Recordo-me bastantes vezes da minha avó com saúde. Agradeço a vida por isso pois convivi com esta pessoa querida durante uns anos de boa saúde. Mas, observa-la magra, quase sem voz, pálida... Não dá para esquecer por muitas memórias boas que tenhamos.

Um ano passou-se naquele hospital até que. Num dia normal de rotina hospital vou com um sorriso na cara ver a minha querida avó. Subi primeiro e os meus pais ficaram no andar de baixo a tratar de umas coisas. Saiu do elevador. Respiro fundo como sempre fiz cada vez que ia por aquele corredor mesmo sabendo que ia inalar aqueles cheiros fortes a medicamentos. A meio do corredor a minha tia vem embalada por duas senhoras a chorar compulsivamente com os pertences da minha avó. Não quis acreditar e fui a correr ao quarto ver com os meus próprios olhos. No entanto, só fui porque saberia que aguentaria tudo o que visse afinal de contas fui eu que quis ver.

Uma senhora embalada num lençol branco num deitar estático. Saiu. Não consigo verter lágrimas. Pelo corredor penso freneticamente até que chego ao pé da minha tia que continua lavada em lágrimas. Os bancos do hospital naquele andar ficavam mesmo à frente das portas do elevador. Sento-me. E, as portas do elevador abrem-se. Era a minha mãe. Olho para ela como nunca antes tinha olhado nem depois e digo-lhe através disso simplesmente que acabou...

A minha avó faleceu pelas leis da vida. Um anjo no céu. O funeral foi tão intenso que ainda hoje me recordo de pormenores tão pequenos que me fazem perceber que sofri mesmo apesar de carregar toda essa dor por mim mesma.

Talvez um dos meus maiores receios seja que este exemplo se repita de novo na minha família muito repartida, diga-se. Nomeadamente que aconteça com o meu pai ou a minha mãe. Ainda que a palavra família tenha perdido imenso significado iria ficar desfeita. Desolada...

Esta é a razão da minha crença em relação ao cancro. Amem-se.

4 comentários:

  1. É de facto muito complicado aceitar uma doença dessas, os meus avós maternos sofreram os dois de cancro e ambos felizmente sobreviveram. ♡♥♡

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  2. Infelizmente também conheço essa realidade, porque perdi a minha avó paterna e o meu tio por causa de um cancro. É mesmo doloroso. Até porque é como tu dizes: por mais memórias boas que se tenham das pessoas, aqueles momentos mais duros ficam para sempre gravados em nós. E partilho desse receio

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  3. os meus avos tambem morreram quase todos de cancro e partilho do mesmo medo!

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  4. Que texto tão bonito apesar de tudo. Felizmente ainda não perdi ninguém muito próximo, mas sei que o meu avó tb morreu de cancro. São as leis da vida. Muita força minha querida Ace :)

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